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Artigo acadêmico descarta risco de contaminação por agrotóxicos noticiada pela imprensa

Letícia Rampazzo, doutora em Fitopatologia, ciência que estuda doenças das plantas, analisou relatório da Anvisa que aponta presença excessiva de resíduos tóxicos em frutas e verduras

Risco de toxicidade para a população em alimentos como pimentão, uva, pepino, morango, entre outros, amplamente alardeado pela imprensa nacional no final do 1º semestre, é descartado em artigo de Letícia Rampazzo, professora de Agronomia da Faculdade UPIS e especialista em defensivos agrícolas – ela é também doutora em Fitopatologia. Foi noticiado em todo o País que a “contaminação por agrotóxicos” poderia causar “câncer e distúrbios neurológicos”, o que motivou a especialista a avaliar criteriosamente o estudo da Anvisa e a tranquilizar a população.

 “Seria necessário ingerir pelo menos cinco quilos diários desses alimentos para que um indivíduo pudesse apresentar algum efeito colateral”, diz.

Dicas para os consumidores

Os consumidores precisam ter em mente que os defensivos agrícolas não são inimigos da população. Combatem pragas e doenças – entre outros objetivos – quando aplicados devidamente e, assim, a produção de alimentos ganha em escala. São aplicados na fase inicial do plantio ou quando aparecem doenças na plantação. Só depois de 30 dias após a colheita é permitido o consumo dos alimentos.

No entanto, sempre é conveniente tomar algumas precauções.

“Os consumidores podem optar por alimentos que tenham a origem identificada. Existem redes de supermercados que possuem rastreabilidade de seus produtos para melhor controle da qualidade dos mesmos, pois isto aumenta o comprometimento dos produtores em garantir alta qualidade, com a adoção das Boas Práticas Agrícolas. Também é possível optar pelo consumo de alimentos orgânicos, alimentos de produção integrada (como é o caso de algumas frutas, como a maçã) ou alimentos que estejam na época de colheita, que, a principio, exigem menor quantidade de agrotóxicos”.

Controvérsia ganha a imprensa nacional

Em 23 de junho, a imprensa divulgou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apurou dados preocupantes do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos em alimentos para consumo, com a presença de resíduos tóxicos ativos, acima da quantidade permitida por lei. De 3.130 amostras de alimentos analisadas – de 20 diferentes culturas – 907 (29%) foram consideradas insatisfatórias, ou seja, potencialmente prejudiciais à saúde humana.

Pimentão (80%), uva (56,4%), pepino (54,8%) e morango (50,8%) são os alimentos com os maiores índices de amostras insatisfatórias de agrotóxicos, segundo a Anvisa.

A imprensa também atribuiu ao Ministro da Saúde afirmações de que “ninguém mais come pimentão na minha casa”, como reação à divulgação pela Agência. A controvérsia afetou toda a cadeia produtiva, diz Rampazzo em seu artigo, “pois se consumidores deixarem de consumir pimentão, por exemplo, não haverá para quem o produtor vender. Antes de tirarmos conclusões precipitadas deveríamos ir à fonte da informação, ter acesso à íntegra e assim, após estudo do assunto, tirarmos nossa própria conclusão, se deveríamos ou não deixar de consumir certos alimentos”.

O relatório do PARA e notas técnicas estão disponíveis e podem ser acessados na íntegra no site www.anvisa.gov.br/toxicologia/residuos/index.htm

Na análise do relatório, a professora da UPIS observou que nas 907 amostras (29% das irregularidades) foram encontradas: a presença de agrotóxicos em níveis acima do Limite Máximo de Resíduos (LMR) em 88 amostras, representando 2,8% do total; a utilização de agrotóxicos não autorizados (NA) para a cultura em 744 amostras, representando 23,8% do total e resíduos acima do LMR e NA na mesma amostra em 75 amostras, apresentando 2,4% do total.

Agricultores erram

A especialista ressalta que o estudo da Anvisa revelou que os agricultores estão utilizando agrotóxicos inadequados em plantios que necessitam de produtos exclusivos.

“A alta dose de agrotóxicos ocorreu devido ao uso de produtos inapropriados nas lavouras. Por exemplo, o agricultor que utiliza um determinado defensivo agrícola em uma plantação de batatas não pode aplicá-lo em uma cultura de milho; e foi exatamente o que aconteceu”, explica Letícia Rampazzo. Para contornar esse problema, a Anvisa providenciou o rastreamento do lote desses alimentos com intuito de identificar esses produtores.

O dado mais preocupante foi a presença, em 2,8% das amostras dos alimentos coletadas, de resíduos de agrotóxicos acima do permitido, escreve em seu artigo. A professora da UPIS diz que “existe um problema fitossanitário” que precisa de uma solução por parte das autoridades. Muitos defensivos são registrados para uma cultura e não para outra “por questão burocrática; são muitos os gastos para fazer o registro e este não compensaria financeiramente para a empresa, pois seria de uso muito restrito”, constata.

Ela sugere em seu texto algumas medidas corretivas e preventivas: fornecer treinamento e esclarecimentos aos produtores quanto ao uso de produtos químicos; vendedores e empresas de químicos poderiam intensificar seu trabalho fornecendo instruções de uso, apesar destas já estarem contidas na bula dos produtos; aumentar a fiscalização por parte das instituições responsáveis pelo controle do uso de agrotóxicos nos pontos de vendas e nos locais de produção.

Segundo Rampazzo, o curso de Agronomia da UPIS, sabendo da importância de formar profissionais altamente qualificados e conhecedores da legislação, possui a disciplina de Defensivos Agrícolas e Sustentabilidade Ambiental. Nesta disciplina são fornecidas as informações adequadas sobre a correta aplicação de agrotóxicos, a importância de uso do compêndio de defensivos agrícolas, como fazer um receituário agronômico, uso correto de EPI, métodos de aplicação, legislação, entre outros.

Leia o artigo na íntegra.

16/08/2010


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